sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Eólica RN: ABEEólica teme veto à MP 1304 e alerta para impacto no RN

 

                                      Aerogeradores de energia eólica em São Miguel do Gostoso (RN).Foto: Felipe Gibson/G1


Maior produtor de energia eólica do Brasil, o Rio Grande do Norte acompanha com preocupação o desfecho da Medida Provisória 1.304/2025, que aguarda sanção presidencial e redefine pontos centrais do setor elétrico. O Estado responde por cerca de 30% da geração eólica nacional e é considerado um dos principais polos de investimentos em energia renovável do país. Em coletiva realizada nesta sexta-feira (14), representantes da indústria afirmaram que um eventual veto ao artigo 1A — dispositivo que estabelece as diretrizes de ressarcimento pelos cortes de geração (curtailment) — colocaria o setor em risco e aprofundaria os impactos já sentidos no RN.

A preocupação ganhou força após a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, afirmar ter ouvido “ruídos” de que o dispositivo poderia ser vetado. Segundo ela, sem o artigo 1A o setor não terá condições de absorver as perdas acumuladas com os cortes de geração. “A indústria de energia renovável, eólica e solar, não vai suportar o fato de a gente não trazer uma solução para o curtailment. A solução está na MP. Nós ouvimos um ruído de que o presidente vetaria o artigo 1A, e sem esse dispositivo a indústria não vai suportar”, declarou.

A fala foi reforçada por fabricantes e investidores presentes na coletiva. Elbia lembrou que os projetos do setor são de longo prazo — com investimentos estruturados para 10 a 15 anos — e que a retirada do dispositivo comprometeria a previsibilidade necessária para novos aportes.

Durante a coletiva, Francisco Silva, diretor técnico regulatório da ABEEólica, detalhou os números relacionados ao mecanismo de compensação. Segundo ele, hoje existe um valor de R$ 3,8 bilhões registrado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) como montante devido pelos geradores. Por outro lado, o prejuízo acumulado com cortes de geração chega a R$ 2,8 bilhões, que seria o valor a ser ressarcido aos empreendimentos. O encontro de contas deixaria R$ 1 bilhão de saldo na CCEE.

De acordo com a explicação, esse valor final evitaria repasse às tarifas no próximo ano.

 

Narrativa “equivocada” sobre impacto ao consumidor

Elbia classificou como equivocada a narrativa de que a MP criaria uma “conta de R$ 7 bilhões” aos consumidores. Segundo ela, o valor real é de R$ 2,8 bilhões — e não seria repassado às tarifas porque seria absorvido pela conta de ressarcimento da CCEE. “Não é verdade que o consumidor vai pagar uma conta de R$ 7 bilhões. É uma conta de R$ 2,8 bi, e não vai para a tarifa”, disse.

A presidente da ABEEólica alertou ainda que a retirada do artigo 1A inviabilizaria o setor. Segundo ela, isso afetaria diretamente regiões onde a energia renovável é mais presente, especialmente no Nordeste, que concentra a maior parte dos investimentos.

“Sem o dispositivo 1A, a indústria de renováveis brasileira vai falir. Toda a discussão que estamos fazendo sobre um país comprometido com a transição energética perde sentido. Estou falando aqui também para uma enviada especial do governo: meu papel é engajar o setor privado, trazer investimento e fazer esse país crescer. Mas isso é impossível sem um sinal regulatório adequado — não podemos colocar sobre os investidores custos que não são cabíveis. Que sinal estamos dando ao investidor que chega ao Brasil querendo ajudar essa economia a crescer e contribuir para que o país lidere a transição energética?”, questionou.

Expectativa pela sanção

A MP 1304 estabelece limites para os recursos arrecadados para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e propõe a contratação de usinas hidrelétricas de até 50 MW. Além disso, a medida define condições para o acesso e comercialização do gás natural da União, buscando melhorar a eficiência e reduzir custos no setor.

O setor aguarda a decisão final da Presidência da República nos próximos dias e defende que o texto seja sancionado integralmente para garantir segurança jurídica e evitar perdas para estados líderes em energia renovável, como o RN.



Fonte: Tribuna do Norte

Fonte da imagem: Aerogeradores de energia eólica em São Miguel do Gostoso (RN). — Foto: Felipe Gibson/G1


 

 

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O CRUZEIRO DAS LAGES: Padre Cerveira: Fé, Tragédia e Memória em Santo Antônio/RN

 

Cruzeiro das Lages. Sítio Lages em Santo Antônio/RN

 

O Padre José Luiz Cerveira foi uma figura singular e marcante na história religiosa e social da região de Santo Antônio, no Rio Grande do Norte. Homem de fé inabalável, sacerdote dedicado e profundamente convicto de suas obrigações espirituais, era também reconhecido como um homem culto, instruído e respeitado por sua comunidade. No entanto, o destino lhe reservaria um episódio trágico, permeado por tensões, disputas e um desfecho doloroso que marcaria para sempre a memória local.

Mesmo ciente de seus deveres religiosos e dos princípios cristãos que regem a prudência e o perdão, o Padre Cerveira acabou se envolvendo em uma querela desnecessária e perigosa com vizinhos de terra, nas redondezas de Lajes — então um distrito pertencente à vila de Santo Antônio. Tal contenda, movida por questões de posse e limites de propriedade, acabaria por conduzi-lo a uma senda de risco, conduzindo-o, pouco a pouco, à sua ruína pessoal e física.

Aqueles que estudam ou relatam o ocorrido compreendem que o episódio reflete a ignorância e as tensões que imperavam no início do século XX, época em que o Brasil ainda era marcado por disputas de terras, ausência de justiça organizada e por um sistema social fortemente baseado na honra e na autoridade pessoal. Assim, o desenlace desse conflito não poderia ter sido diferente: um incidente de proporções trágicas e devastadoras para a recém-fundada vila de Santo Antônio.

Segundo alguns registros preservados e mesclado pelo senso comum de Santo município de Santo Antônio, o crime hediondo ocorreu em 25 de fevereiro de 1904, conforme documentos e relatos orais mantidos por membros da própria vila, na época. O relato descreve os acontecimentos de maneira clara e contundente:

“O Padre Cerveira se dirigiu com destino a Lajes, distrito de Santo Antônio, a fim de mandar derrubar um cercado que havia sido construído por Joaquim Clemente, com madeira retirada de uma mata pertencente ao sacerdote. O Padre foi acompanhado por diversos trabalhadores. Ao chegarem ao local, apareceram Joaquim Clemente e seus dois filhos, Joaquim e João. Um dos filhos pediu ao sacerdote que não mandasse derrubar a cerca. Como o Padre não atendeu à solicitação, o rapaz desferiu-lhe uma facada no estômago, derrubando-o do cavalo em que estava montado. Como se isso não bastasse, os três se precipitaram sobre o sacerdote, golpeando-o diversas vezes com suas facas. O Padre expirou imediatamente. Um dos presentes, afilhado e amigo do vigário, tentou socorrê-lo, mas foi igualmente assassinado pelos agressores.”

O crime chocou toda a população local. O assassinato brutal de um homem de Deus — símbolo da fé e da orientação espiritual da comunidade — foi interpretado como uma mancha na história da jovem vila. A repercussão do fato ultrapassou as fronteiras do município e se espalhou por outras localidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba, tornando-se um dos episódios mais comentados da época.

Segundos relatos o Padre José Luiz Cerveira era português de nascimento, natural de uma das regiões rurais do norte de Portugal, e havia chegado ao Brasil ainda jovem. Além de sacerdote, exercia também a profissão de médico homeopata, aplicando o sistema criado por Samuel Christian Friedrich Hahnemann, médico alemão considerado o fundador da homeopatia. Em sua paróquia, o padre empregava tanto os princípios da medicina natural quanto técnicas hidroterápicas, realizando curas notáveis em diversas pessoas humildes e carentes de recursos. Seu trabalho, movido pela compaixão e pela fé, lhe granjeou o respeito e a admiração da comunidade. Era, ao mesmo tempo, pastor de almas e curador de corpos.

Contudo, a convivência entre vizinhos, em uma época de escassa regulamentação fundiária e forte apego à posse da terra, nem sempre era pacífica. As terras em torno de Santo Antônio, como em muitos outros lugares pelo Brasil, eram disputadas com ardor, e o episódio que levou à morte do Padre Cerveira foi fruto direto dessa realidade social. Pequenas divergências, inflamadas pelo orgulho e pelo sentimento de propriedade, tornaram-se combustível para a tragédia.

Após o assassinato, os criminosos foram capturados imediatamente, mas a dor e o espanto causados pelo crime deixaram marcas profundas. O corpo do Padre Cerveira foi velado sob grande comoção popular, e seu funeral foi acompanhado por uma multidão silenciosa e consternada. A igreja local tornou-se, naquele momento, o ponto de convergência das orações e lamentos de toda a comunidade, que via na morte do sacerdote um sinal da decadência moral e da violência que, por vezes, manchavam a vida sertaneja.

Com o passar dos anos, o episódio ganhou contornos quase lendários. A história do Padre Cerveira atravessou gerações, sendo contada e recontada por anciãos, professores e religiosos, sempre com o mesmo misto de respeito e temor. No local exato onde o crime ocorreu, foi erguido um cruzeiro — um monumento simples, mas profundamente simbólico. Hoje, embora esquecido por muitos e carente de cuidados, o cruzeiro ainda se mantém ereto, guardando em silêncio a memória daquele dia fatídico. Ele se ergue como testemunho de fé, dor e lembrança de um tempo em que o sagrado e o profano se misturavam nas veredas do sertão.

Atualmente, uma das ruas mais conhecidas da cidade de Santo Antônio leva o nome do padre: Rua Padre Cerveira, anteriormente chamada de Rua do Motor. Essa homenagem representa um gesto de reconhecimento da comunidade pela importância histórica e espiritual de seu antigo vigário.

Rua Padre Cerveira


Segundo relatos do antigo proprietário das terras onde o crime ocorreu, o senhor Luiz Maia (já falecido), o local ainda é visitado com frequência por devotos, religiosos e curiosos vindos de várias cidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba — e até de outros estados. Muitos deles levam ao cruzeiro pequenos objetos simbólicos: terços, muletas, imagens de santos, velas, bilhetes e relíquias diversas. Esses gestos, segundo os visitantes, são expressões de gratidão por bênçãos e graças alcançadas através da intercessão espiritual do Padre Cerveira, cuja memória ainda inspira fé e devoção.

É impressionante perceber como a lembrança de um homem pode atravessar o tempo e continuar viva mesmo mais de um século após sua morte. O Padre José Luiz Cerveira, apesar de ter sido vítima de uma violência absurda, permanece presente no imaginário coletivo como símbolo de coragem, fé e dedicação ao próximo. Sua história não é apenas um relato policial ou uma curiosidade histórica: é um fragmento essencial da formação moral e religiosa da região.

Na minha opinião, o local onde o sacerdote foi martirizado merecia um cuidado maior por parte das autoridades e dos fiéis. Seria justo que ali fosse erguida uma pequena capela, um espaço sagrado destinado à oração, à reflexão e à preservação da memória. Além disso, o acesso ao local poderia ser melhorado, permitindo que os peregrinos, vindos de diversas regiões, possam visitar o cruzeiro com mais segurança e conforto. Um gesto simples como esse serviria não apenas como homenagem a um homem que dedicou a vida à fé e ao bem comum, mas também como valorização da história religiosa e cultural de Santo Antônio.

Preservar a memória do Padre Cerveira é preservar parte da alma de nosso povo. Sua trajetória — de missionário, médico, guia espiritual e mártir local — deveria inspirar as novas gerações a compreenderem a importância da fé, da justiça e do respeito ao próximo. Visitar o cruzeiro erguido em sua homenagem é mais do que um ato de curiosidade: é um mergulho na história viva do sertão, um convite à reflexão sobre os valores que moldam a humanidade.

Vale a pena conhecer esse espaço sagrado, não apenas por sua beleza singela, mas, sobretudo, pela força espiritual que emana de suas pedras e memórias.


Obs! A propriedade onde fica o local do cruzeiro, hoje em dia, pertence ao senhor João Maria!


Por: Claudianor Dantas. Geógrafo e Bacharel em Ad. Pública


Produzi essa matéria a mais de 10 anos. A pedidos, resolvi republicar de maneira mais detalhada.



sábado, 1 de novembro de 2025

ASPÉCTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRIA DE SANTO ANTÔNIO/RN


História

Nas redondezas da região agreste do Estado, existia uma pedra rachada ao meio, com uma fenda medindo aproximadamente, três metros. Segundo a lenda, uma onça foi ferida mortalmente em pleno salto por um caçador, surgindo assim à denominação Salto da Onça.

A organização de um povoamento na área teve início de fato em 1850, quando Ana Joaquina de Pontes, pernambucana, comprou de Florêncio da Costa Palma uma propriedade, estabelecendo-se lá com sua família.

Como fundadora do povoado Salto da Onça, Ana Joaquina de Pontes participou efetivamente do seu desenvolvimento, fortalecendo a atividade agrícola, dinamizando as atividades comerciais com a criação da feira local, construindo casas e doando patrimônio à capela de Nossa Senhora da Conceição.

Por ocasião da celebração da primeira missa, o Vigário de Goianinha, padre Manoel Ferreira Borges, mudou o nome do povoado para Santo Antônio, mas a população estabeleceu outra denominação, Santo Antônio do Salto da Onça unindo história e religiosidade.

O Decreto número 32, de 5 de julho de 1890, criou o município de Santo Antônio, que deixou de pertencer a Goianinha. Em menos de um ano, o Decreto número 102, de 31 de março de 1891, tornou sem efeito a criação do município. Em 8 de janeiro de 1892, por força do Decreto número 6, Santo Antônio voltou a ter autonomia, sendo restaurada sua merecida condição de município do Rio Grande do Norte.


CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

Localização, Área, Altitude da Sede, Distância em Relação à Capital e Limites

Coordenadas Geográficas: latitude: 6º 18’ 38” Sul

longitude: 35º 28’ 44” Oeste

No Google Earth: Digitar na área de procura da seguinte maneira:

s6 18 38 w35 28 44

Área: 301,0,82 km², equivalente a 0,57% da superfície estadual.

População no último censo 22.177 pessoas  [2022]

Densidade demográfica 73,66 hab/km² [2022]

População estimada 22.793 pessoas[2025]

Altitude da Sede: 92 metros

Distância em Relação à Capital: 70 km

Limites: Norte – Serrinha, Lagoa das Pedras e Passagem

Sul – Nova Cruz e Lagoa d’Anta

Leste – Passagem, Várzea e Brejinho

Oeste – Serrinha, Lagoa d’Anta e São José de Campestre


Hidrografia

 

Hidrogeologia:

Aqüífero Cristalino - engloba todas as rochas cristalinas, onde o armazenamento de águas subterrâneas somente se torna possível quando a geologia local apresentar fraturas associadas a uma cobertura de solos residuais significativa. Os poços perfurados apresentam uma vazão média baixa de 3,05 m³/h e uma profundidade de até 60 m, com água comumente apresentando alto teor salino de 480 a 1.400 mg/1 com restrições para consumo humano e uso agrícola.

Aqüífero Aluvião - apresenta-se disperso, sendo constituído pelos sedimentos depositados nos leitos e terraços dos rios e riachos de maior porte. Estes depósitos caracterizam-se pela alta permeabilidade, boas condições de realimentação e uma profundidade média em torno de 7 metros. A qualidade da água geralmente é boa e pouco explorada.

Hidrologia:

O município encontra-se com 100% do seu território inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Jacú. Rios Principais: Jacu.

Riachos Principais: Umbuzeiro, Baixio, Pai Domingos, do Prego, Salgado, da Várzea, Jacumirim de Baixo, Macacos.

Lagoas: do Bola, das Panelas, do Saco, do Gravatá, Redonda, Capim-Açú, das lages, do Catolé, da Quixaba, da Lama, do Espeto, das Cobras, Timbaúba, entre outras.

Açudes com Capacidade de Acumulação Superior a 100.000 m3: Inexistente.


Relevo

Serra da Micaela

De 50 a 200 metros de altitude.

Depressão sub-litorânea - Terrenos rebaixados, localizados entre duas formas de relevo de maior altitude. Ocorre entre os Tabuleiros Costeiros e o Planalto da Borborema.

Vegetação

Caatinga Hipoxerófila - vegetação de clima semi-árido, apresenta arbustos e árvores com espinhos e de aspecto menos agressivo do que a Caatinga Hiperxerófila. Entre outras espécies destacam-se a catingueira, angico, juazeiro, braúna, marmeleiro, mandacaru, umbuzeiro e aroeira.

Clima

Tipo: clima muito quente e semiárido.

Precipitação Pluviométrica Anual (2007): normal: - 798.4

Observada: 936.1. Desvio: 138.1(mm)

Período Chuvoso: março a julho

Temperaturas Médias Anuais: máxima: 32,0 °C; média: 25,6 °C; mínima: 21,0 °C

Umidade Relativa Média Anual: 74%

Horas de Insolação: 2.400.


Solos

Solos predominantes e características principais:

Planossol Solódico - fertilidade natural alta, textura argilosa e arenosa, relevo suave ondulado, imperfeitamente drenado, raso.

Uso: Estes solos são utilizados, principalmente, com pecuária e em pequenas áreas com milho, algodão e feijão consorciados, além de sisal e palma forrageira. Seu aproveitamento racional

com pecuária requer melhoramento das pastagens e intensificação da palma forrageira. A irrigação nestes solos é problemática, devido à pequena profundidade, problemas de manejo e considerável teor de sódio trocável.

Destacam-se as culturas do milho, feijão, batata e mandioca.

Aptidão Agrícola: regular para pastagem plantada e apta para culturas ciclo longo, (algodão arbóreo, sisal, caju e coco).

Sistema de Manejo: médio nível tecnológico. As práticas agrícolas dependem do trabalho braçal e da tração animal com implementos agrícolas simples.


Aspectos Geológicos e Geomorfológicos

Geologicamente o município caracteriza-se por dois tipos de terrenos, Embasamento Cristalino e as Coberturas Colúvio-Eluviais. O Embassamento Cristalino aflora na porção sul da área nas partes mais baixas, nos vales dos principais rios sendo representa por migmatitos, gnaisses, anfibolitos, xistos, granitos e anfibolitos de Idade da Pré-Cambriana Média (1.100 - 2.500 milhões de anos). Enquanto as coberturas Eluvio-coluviais (paleocascalheiras), ocupando a porção norte, nas partes topograficamente mais altas do município, são caracterizadas por espessos solos arenosos, lixiviados e inconsolidados, Idade Quaternária, que tiveram origem pelo intemperismo atuante sobre as rochas do grupo Barreiras. Geomorfologicamente predominam formas tabulares de relevos, de topo plano, com diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de drenagem, separados geralmente por vales de fundo plano.

Recursos Minerais Associados

Complexo Gnáissico-Migmatítico - rocha ornamental especialmente migmatitos utilizado em piso e revestimento; brita e rocha dimensionada utilizada para construção civil.

Grupo Barreiras e Paleocascalheiras - cascalho, material utilizados para construção civil; seixos e calhaus de calcedónia, utilizada em artesanato mineral e em moinhos de bolas, agua mineral, utilizada para o consumo humano.

Sítio Natural

Nesta bacia destaca-se o sítio natural da Fazenda Germânia, com presença de fósseis de mamíferos.


Fonte: exceto as imagens

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS – SEMARH INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE – IDEMA.



O NATAL DE JESUS. "1º Encontro dos Espíritas e Amigos na cidade de Santo Antônio/RN


É com imensa alegria e gratidão que convidamos você para participar do "1º Encontro dos Espíritas e Amigos em Santo Antônio do Salto da Onça", um evento especial que traz como tema “O Natal de Jesus”. Nesta celebração fraterna, teremos uma palestra cantada com Tânia Soares e Wallyson Santos, unindo música e reflexão em um momento de luz, emoção e aprendizado espiritual. Será uma oportunidade única para renovar nossos sentimentos de fé, solidariedade e amor ao próximo, inspirados na mensagem sublime que o nascimento de Jesus representa para a humanidade.

Convidamos todos os corações a se unirem nessa manhã de paz e esperança, celebrando o verdadeiro espírito natalino. A entrada é gratuita e todos são bem-vindos! Quem desejar, poderá contribuir com a doação de 1kg de alimento não perecível, gesto simples que simboliza a partilha e o amor cristão.

O encontro acontecerá no domingo, 23 de novembro de 2025, às 9h da manhã, no local do Cursinho de Português (Prof.ª Liana Lemos), Rua 13 de Maio, 81 – Centro – Santo Antônio/RN.

Para confirmar presença, entre em contato pelo WhatsApp (84)9 9987-8534. Venha celebrar conosco o Natal de Jesus em um encontro de paz e fraternidade!

 

Professora Liana Lemos




quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Cheia do Rio Jacu - de 1964. Um conto!


Texto criado depois de ouvir relatos dos mais antigos. Pessoas que presenciaram e relataram as cenas. Mesmo que de forma oral, muito do que contaram foi verdade.


Cheia de 1964 

Era o começo de março de 1964 quando o céu sobre o Município de Santo Antônio, no Rio Grande do Norte, começou a escurecer de um jeito diferente. As nuvens, carregadas e densas, anunciavam que o inverno naquele ano seria rigoroso. Poucos acreditavam que aquelas chuvas trariam mais do que fartura. Afinal, o povo da região estava acostumado a esperar pelas águas como quem espera por bênçãos. Mas ninguém imaginava que, naquele ano, o Rio Jacu e o seu afluente próximo à cidade (o Riacho dos Macacos) viriam a reclamar a área de várzea que era deles, com uma fúria que ficaria marcada na memória de todos.

As primeiras pancadas de chuva vieram brandas, refrescando o chão quente e a vegetação seca. O cheiro de terra molhada tomava as ruas, e as crianças corriam descalças sob o aguaceiro, rindo da novidade. Os adultos olhavam o céu com certo alívio, calculando mentalmente o quanto de milho e feijão plantariam. Mas os dias foram passando, e a chuva não deu trégua. Era água de manhã, à tarde e à noite. O barulho das goteiras passou a embalar o sono e a vigília. O Rio Jacu, que cortava o município com sua calma costumeira, começou a mostrar sinais de inquietação.

Quando a enchente chegou de fato, ninguém estava preparado. As águas invadiram as margens com força, arrastando o capim, os paus, os cercados. O cemitério, que ficava próximo ao leito do rio, foi o primeiro a sentir o golpe da natureza. As covas ficaram tomadas pela lama; cruzes se inclinavam sob o peso da correnteza, e o silêncio do campo-santo deu lugar ao murmúrio das águas que se infiltravam por entre os túmulos. Era uma cena triste e, ao mesmo tempo, de uma beleza trágica — como se o tempo tivesse parado diante da força bruta da natureza.

As ruas de Santo Antônio, outrora secas e poeirentas, transformaram-se em canais de lama. As casas mais baixas foram invadidas pela água, e os moradores corriam de um lado para o outro tentando salvar o que podiam: um colchão de palha, um tamborete, uma fotografia, a imagem de um santo. As mães carregavam os filhos no colo, temendo o desconhecido, enquanto os mais velhos observavam em silêncio, recordando outras cheias, menores, menos impiedosas.

Naquele cenário de aflição, um homem chamava atenção pela coragem e pelo sofrimento: o vaqueiro Antônio Bento. Conhecido por sua bravura e habilidade com o gado e por nunca abandonar um animal, ele se via diante de um desafio que nem sua força nem sua experiência pareciam dar conta. As águas haviam cercado a fazenda do seu patrão, e o rebanho mugia desesperado. Antônio montou seu cavalo e, com a água já na altura da sela, começou a conduzir os bois para um terreno mais alto. A chuva batia-lhe no rosto como agulhas, mas ele não desistia. A cada metro conquistado, um bezerro era salvo; a cada volta, um novo risco. Quando enfim alcançou a parte seca, caiu de joelhos, exausto, mas aliviado. Parte do rebanho ficara para trás — e isso o doía mais do que a própria fadiga.

Não muito longe dali, João Pifano vivia seu próprio drama. Tinha um boi de estimação e da carroça, companheiro de tantas lidas, que fora levado pela correnteza. Tentou alcançá-lo, gritando, mas as águas o engoliram num movimento rápido e cruel. João ficou parado à beira do rio, olhando o vazio, com os olhos marejados. O boi, para ele, não era apenas um animal — era um símbolo de anos de trabalho, de luta e de sobrevivência. A perda parecia resumir toda a impotência humana diante da natureza.

Na igreja matriz, ponto central da cidade, as águas chegaram próximas ao adro, ameaçando entrar. Os sinos silenciaram, como se respeitassem um luto coletivo. O padre, aflito, abrigou famílias em seu interior, transformando o templo em refúgio. Ali, o povo rezava, não apenas pedindo que a chuva parasse, mas também agradecendo por ainda estarem vivos. Velas acesas tremeluziam nas mãos, refletindo-se na água que já chegara a poucos metros da porta da frente. Era um cenário de fé e desespero, em que o medo se misturava à esperança.

Alguns sítios e fazendas ao redor estavam meio submersos. O que antes era pasto seco agora era um espelho d’água. Árvores pareciam ilhas isoladas, e barcos improvisados começaram a surgir — feitos de portas, caixotes, troncos. O povo sertanejo, resistente como o solo que habita, mostrava mais uma vez sua capacidade de enfrentar a adversidade. Entre gestos de solidariedade, dividiam o pouco que restava: um pedaço de pão, uma coberta, um lugar seco para dormir.

Os dias seguintes foram de desolação. Quando a chuva finalmente cessou, o sol reapareceu tímido, revelando o rastro da destruição. O barro cobria tudo. As ruas, antes alegres, agora pareciam fantasmas. Restava às pessoas o trabalho árduo de reconstruir o que as águas haviam levado. O cemitério precisou ser limpo e reorganizado, a igreja recebeu reparos, e as fazendas tentavam se reerguer. Mas algo mudara para sempre na memória de Santo Antônio: a certeza de que o rio, por mais manso que parecesse, guardava uma força silenciosa, pronta para despertar.

Com o tempo, as histórias da cheia de 1964 viraram lembrança. Nas conversas de fim de tarde, os mais velhos ainda falavam da “grande cheia do Jacu”, como quem narra uma lenda. As crianças ouviam atentas, com olhos arregalados, tentando imaginar o dia em que o rio subiu e fez o povo fugir. Para uns, era um castigo divino; para outros, apenas um capricho da natureza. Mas todos concordavam em uma coisa: depois daquela enchente, Santo Antônio nunca mais seria o mesmo.

Hoje, quando a chuva cai forte e o rio começa a subir, há quem ainda sinta um frio na espinha. A memória da cheia de 1964 permanece viva, não apenas nas palavras, mas no respeito que o povo aprendeu a ter pelo Rio Jacu. E, de alguma forma, entre o medo e a reverência, ficou também a lição: o homem pode tentar dominar a terra, mas é a natureza que dita as regras — e o rio, paciente e antigo, nunca esquece o seu caminho.


Por: Claudianor Dantas

Geógrafo e Bacharel em Administração Pública